O difícil de fotografar as pautas relacionadas ao covid-19, é que a paranoia cresce e a necessidade de se tirar do campo de maior exposição se torna uma necessidade. Em um desses momentos resolvi me tirar um pouco de perto, tanto pela crescente paranoia, quanto pela maneira que isso afeta nossa maneira de render na fotografia.
Um dos lugares que me chamaram a atenção foram os aeroportos, agora vazios e que também retratam grande parte da pandemia, através deles o coronavirus tomou conta do mundo com uma velocidade nunca antes vista, e através deles se pode ver o sintomas sociais que a pandemia trouxe. A primeira parada, Aeroporto de Congonhas, Zona Sul da capital Paulista, São Paulo.

Como faz parte da rota do Palácio dos Bandeiras, onde são realizadas as coletivas de imprensa do Governo de São Paulo, à minha casa, resolvi dar uma breve pausa por lá, e como já estava com a Fujifilm x100t na mochila, poderia fazer alguns registros de uma maneira mais discreta. Ao chegar no aeroporto já me deparo com a seguinte situação: somente um senhor em quase toda a calçada que leva ao embarque, próxima à entrada, somente 3 taxistas aguardam algum passageiro. Dentro do Aeroporto de Congonhas, lojas fechadas, e ele inteiro vazio. Zero viagens marcadas e os monitores que mostram os embarques e desembarques, ligados por mera funcionalidade, mostram zero destinos. Nenhum voo previsto para esse dia.

No dia seguinte há uma notícia de que o Aeroporto voltaria a operar com viagens. Dessa vez ao chegar, encontro os cafés abertos porém o movimento absurdamente baixo. 3 pessoas em todo saguão em baixo do embarque. Os monitores já mostram 4 voos, 2 embarques e 2 desembarques para o dia, todos marcados após as 17h00. Dessa vez eu já havia entrado em contato com o responsável pela assessoria do Aeroporto de Congonhas, estava devidamente autorizado a fotografar o espaço sem que houvesse problemas, seguindo as normas por eles delimitadas.
Cerca de 180 imigrantes colombianos estão acampando no aeroporto por quase duas semanas, alguns mais de 15 dias. O motivo? A crise econômica gerada pelo COVID-19 fez com que grande parte deles perdessem seus trabalhos na capital São Paulo, e outra parte havia perdido até suas moradias. Os mesmo tinham como opção retornar para casa, porém sem dinheiro e sem ter onde ficar, pedem ao governo Colombiano um vôo de repatriação para que pudessem voltar à Colombia, Governo esse que não deu sinal algum a seus cidadãos agora presos dentro do aeroporto de Guarulhos. Resolvi focar um pouco nessa vida de aeroporto, e então recebi a mensagem de um companheiro de agência avisando sobre uma situação no Aeroporto Internacional de Guarulhos.

Já propriamente identificado e autorizado, chego no aeroporto, e me deparo com salas inteiras transformadas em acampamentos. Converso com a Colombiana Nathaly, que está lá com sua filha ainda criança, dormindo em um colchão inflável na sala de espera de embarque,  a mesma me conta um pouco de como há dias não há nenhuma informação do Consulado Colombiano no Brasil e em como as únicas doações que recebem são vindas de brasileiros e outros colombianos que residem no Brasil e possuem uma melhor condição financeira. Ela também me diz que tudo bem ir para outras salas do terminal 2 fotografar, que onde estavam ainda era pouco. Realmente, Nathaly tinha razão: ao chegar na segunda sala sou apresentado a Colombiana Monica, essa que ajuda a organizar o acampamento e toma a iniciativa junto à Núbia. Me apresentam como repórter e fotógrafo aos outros colombianos, e ali decido também seguir um pouco do seu dia em meio à essa crise.
Em boa hora, quando doações de alimentos estão chegando e logo eles podem organizar os almoços e jantas, Monica me conta que no acampamento uma marmita pode render um almoço e uma janta, ou até mesmo servir duas pessoas no momento que chega. Dessa maneira conseguem multiplicar um pouco o que recembem para durar mais, durante esse período de tempo indeterminado e sem resposta, ainda no aguardo do governo Colombiano.
A imigrante Colombiana Monica, responsável pela organização do acampamento, sábado (23).
A imigrante Colombiana Monica, responsável pela organização do acampamento, sábado (23).
A imigrante Colombiana Núbia, responsável pela organização do acampamento, sábado (23).
A imigrante Colombiana Núbia, responsável pela organização do acampamento, sábado (23).
Há muitas crianças, desde recém-nascidos à adolescentes, no acampamento, e em meio à feições de cansaço de alguns adultos sobre a situação e a falta de resposta do Governo Colombiano, é até bom ver um tipo de sorriso, onde crianças brincam com o que podem. Grande parte joga ou assiste algo nos smartfone dos pais, dessa maneira conseguem se distrair melhor. “Eles ainda não entendem muito sobre o que está acontecendo” diz uma mãe presente no aeroporto, “para eles faz parte”.
Sou bem recebido pelo grupo, converso com eles para entender mais a situação, e durante esse tempo, fotografo uma cena ou outra que acontece entre eles, focando no mais próximo possível a suas atividades cotidianas, ainda que estejam totalmente fora por estarem sendo realizadas dentro de um aeroporto.

Na mesma noite o Governo Colombiano respondeu aos seus cidadãos acampados no Aeroporto Internacional de Guarulhos. Seu vôo de repatriação havia sido negado, a opção é a passagem individual de 420,00 dólares, equivalentes à aproximadamente 2.300,00 reais no dia, o que torna o retorno a seu país ainda mais inviáveis àqueles presentes em tal situação…
As fotos foram feitas no Sábado 23 de Maio de 2020. Hoje, 28 de Maio de 2020, data a qual estou postando o texto, nada mudou. Os imigrantes colombianos continuam no aeroporto sem novas informações.
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